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A RAINHA DA COMÉDIA BRASILEIRA: DERCY GONÇALVES
Falar um pouco sobre Dercy Gonçalves, uma artista que é exemplo de batalha e garra e que soube viver, uma artista que eu admiro muito, que se especializou-se na comédia e no improviso, o que fazia de melhor, pois Dercy era naturalmente engraçada. Foi um dos maiores expoentes e precursora do teatro de improviso no Brasil.
Dercy foi uma mulher autêntica, irreverente, debochada, e por sua rebeldia causou muita polêmica, sendo vítima de preconceito em uma época muito conservadora e moralista. Mas também foi muito querida e respeitada pelos amigos e seu público por sua personalidade marcante.
A atriz mostrou ao Brasil porque veio ao mundo. Brilhou nos palcos, no cinema e televisão, onde trabalhou com várias gerações de humoristas e grandes nomes da comédia do Brasil. São bons exemplos dessas parcerias os artistas Grande Othelo, Oscarito e Chico Anísio.
Dercy Gonçalves, batizada como Dolores Gonçalves Costa, nasceu em 1905 em uma pequena cidade chamada Santa Maria Madalena, localizada na região serrana do Rio de Janeiro. No entanto, parece que por um engano só foi registrada em 1907.
Assim, aos dezessete anos de idade, quando a cidade de Santa Maria Madalena tornou-se pequena demais para o seu talento, fugiu de casa com o cantor Eugênio Paschoal da Companhia Maria de Castro em visita à cidade.
Humorista, atriz e cantora brasileira, Dercy participou do auge do Teatro de Revista nos anos de 1930 e 1940, estrelou em diversos espetáculos da Companhia do empresário Walter Pinto, responsável pelo grandioso sucesso do Teatro de Revista Brasileiro nas décadas de 40 e 50.
A comediante é notória por suas participações na produção cinematográfica brasileira das décadas de 1950 e 1960, e foi considerada uma das rainhas das chanchadas. Em 1958, aos 53 anos de idade, foi dirigida por Watson Macedo no filme "A Grande Vedete", aquele que ela considerava o seu maior trabalho no cinema.
O grande sucesso de Dercy Gonçalves na televisão só aconteceu mesmo em 1961, na TV Excelsior. Ela participava do programa Viva o Vovô Deville, de Sergio Porto, no quadro "A Perereca da Vizinha", e no teleteatro "Dercy Beacoup", de Carlos Manga, com sátiras de personagens históricos. Dercy chegou a ser a atriz mais bem paga da TV Excelsior em 1963.
Na emissora TV Globo comandou um programa de auditório com variedades e entrevistas, durante o período de 1966 a 1969, chamado Dercy de Verdade, sendo um dos primeiros sucessos da emissora.
Vale lembrar a participação de Dercy Gonçalves em novelas produzidas pela Rede Globo, que fizeram o Brasil rir com suas piadas debochadas e irreverentes: "Que Rei sou Eu?", exibida em 1989 e "Deus nos Acuda" , exibida em 1992.
Dercy Gonçalves foi mesmo essa loucura e contradição! Falou o que queria, rebolou no Teatro Revista, fez o que quis no cinema e na chanchada, sempre interferindo na direção dos filmes em que atuava, falou palavrão na televisão, e quando foi homenageada no carnaval pela Escola de Samba Unidos do Viradouro, desfilou aos 83 anos com os seios de fora. Mas foi também, uma pessoa com valores conservadores, herdados de sua época e cidade de origem.
DERCY DE VERDADE
Dercy Gonçalves faleceu em 2008 com 101 anos de idade, e foi sepultada em sua terra natal Santa Maria de Madalena em um mausoléu em forma de pirâmide de vidro, do lado de fora do cemitério da cidade, construído a seu pedido quando tinha 90 anos de idade.
Ela sempre é mais lembrada por seu humor temperado com palavrões do que pelos dramas sutis. Mas na contramão da imagem extrovertida criada em torno da atriz falecida em 2008, aos 101 anos, Maria Adelaide Amaral mostrou em “Dercy de Verdade”, microssérie que a Globo exibiu, as dificuldades e opiniões de Dercy ocultas em sua vida privada. “O palavrão era puro marketing. Apesar de desbocada, ela era extremamente moralista”, valorizou Maria Adelaide, que diz que o bom de ter feito este trabalho é ter iluminado a vida de uma mulher forte e digna.
Trajetória
A trajetória de Dolores Gonçalves Costa, nome de batismo de Dercy, é contada em três fases. A primeira, gravada em Santa Maria Madalena – interior do Rio de Janeiro, cidade natal da atriz –, mostra a infância pobre da menina, interpretada por Luiza Périssé, filha da atriz Heloísa Périssé. Na parte seguinte, Heloísa assume o papel da juventude até a maturidade. Na última fase, na terceira idade, quem se apodera da personagem é Fafy Siqueira, atriz que conviveu de perto com Dercy e que já tinha representado a comediante em “Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor”, microssérie de 2010.
Ao passear pelos momentos mais importantes da carreira de Dercy, como sua estreia nos palcos, nos anos 30, as chanchadas da década de 50, e as participações na tevê ao longo de toda a vida, as equipes de figurino, cenários, maquiagem e direção de arte, tiveram o minucioso cuidado de reconstruir épocas distintas em estúdio e locações.
Vida de atriz
Para contar a história de Dercy Gonçalves, a autora Maria Adelaide Amaral e o diretor Jorge Fernando levam o telespectador até Santa Maria Madalena – cidade natal da atriz, localizada na região serrana do Rio de Janeiro. Abandonada pela mãe e com uma relação difícil com o pai, que sempre quis conter o jeito abusado da filha, Dercy, interpretada nesta fase por Heloísa Périssé, teve uma juventude cheia de sacrifícios. Na cidade pequena, a irreverência da jovem a fez alvo de muitas críticas da família e da vizinhança. Tanto que, apesar da boa voz, ela foi expulsa do coral da igreja local por suas atitudes e visual ousado para a época. “Ela adorava se maquiar. E naquela época, maquiagem muito pesada era coisa de prostituta”, disse Jorge Fernando.
A vida de Dercy muda ao conhecer os integrantes da companhia de teatro Maria de Castro. Fã de atrizes como, Theda Bara e Pola Negri, e incentivada pelo galã da trupe, Pascoal, de Fernando Eiras – que se tornou seu primeiro marido – ela decide seguir a carreira artística. Com Pascoal diagnosticado com tuberculose, Dercy decide ir para São Paulo fazer teatro e arranjar dinheiro para cuidar do parceiro. Sem grandes chances na cidade grande, ela segue o conselho de uma amiga e começa a se prostituir. É aí que ela conhece sua segunda paixão, Valdemar, de Cássio Gabus Mendes, seu primeiro cliente e pai de sua filha, Decimar. O romance durou pouco mais de dois anos, e mesmo sendo casado, Valdemar registrou e ajudou na criação da criança.
Com o apoio de Valdemar, Dercy muda-se com Pascoal para o Rio de Janeiro e começa a ter uma outra perspectiva da carreira. Nas coxias de seus espetáculos, ela acumula amores, como Vito Tadei, de Ricardo Tozzi, e amigos como Chico Anísio, de Nizo Netto, e Carlos Manga, de Danton Mello, diretor da TV Excelsior e responsável pela estreia de Dercy na tevê. “É uma vida muito rica. E ela fazia o saldo parecer sempre muito positivo”, afirmou Maria Adelaide Amaral.
FALA DERCY
nos anos 2000 em Fala Dercy no SBT |
Dercy aos 92 anos deu a volta por cima e foi apresentar um programa de auditório no SBT, o "Fala Dercy", se o programa fez sucesso ou não, isso não importa! O importante foi que aos 92 anos a grande estrela do teatro tinha reencontrado a felicidade. Também muito marcante foi as entrevistas de Dercy, que sempre respondia as perguntas com muito humor, pra matar a saudade dessa estrela que eu amo de paixão, abaixo uma dessas históricas entrevistas dadas por ela.
Na ocasião no final da década de 1990 quando completava 90 anos.
Na ocasião no final da década de 1990 quando completava 90 anos.