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Resenha: Livro ''A parteira'', do poeta Adenildo Lima
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21:19
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#Resenha,
Márcio Ahimsa
Recebi com grande carinho, o livro do escritor Adenildo Lima, li com um grande encantamento, o texto nos mostra realidade poetizada. Uma obra narrada que nos prende do início ao fim, me deliciei com a obra. Abaixo uma resenha do que se trata, leiam:
Resenha de: Márcio Ahimsa
É nesse cenário de fábulas, onde a terra rachada vomita fogo em
labaredas e revela suas veredas, que nos deparamos com a essência humana
na pele caricata de uma gente que constrói a vida pelo revés do mundo.
A parteira é uma obra concisa, estridente e real que nos
mostra a tona de um povo emergindo de sua própria força, sua fé, sua
esperança. Aqui, onde muitos já nascem no fim, a vida é um soslaio
observando a gruta ao longe, como semente que vigora na tez de uma
rocha.
A obra possui voz própria, a voz dos esquecidos, que é a voz de quem
tem fome e não fala. Comparar a obra de Adenildo Lima com qualquer outra
obra é um atrevimento, senão uma ofensa obliqua, pois se temos um
caráter construtivo semântico intencional na obra de João Cabral de Melo
Neto, ou com um cunho sócio psicológico proposto por Graciliano Ramos
em São Bernardo, na pele do personagem Paulo Honório, que embrutece a alma, não temos em A parteira nada
disso. Temos sim o menino Pedro com sua carência de brinquedo, temos a
enxada latente cortando seu pé esquerdo na sinonímia de um tempo que
ainda acontece na nossa contemporaneidade.
A parteira é um grito e um silêncio, é essa paradoxal verossimilhança
da realidade de um país onde, de um lado é latente a dor escorrendo
pelo esconderijo em tom vermelho do nosso agreste e, do outro, é como se
fosse uma nódoa no tom de um conto de fadas onde se acredita em
fantasias criadas, mas não se crê em verdades cruas. Para quem vive no
centro ótico do mundo, o agreste, o ocre das capoeiras onde correm as
crianças descalças e nuas atrás de um ópio que as tornem reais, qualquer
cabra ou maracatu para espetar a dor da realidade, é apenas uma fábula
ou história fantástica. Mas no leito dos extremos de uma nação, esteja
ela em qualquer continente, os contos de fadas não maquiam a realidade.
São verídicas as experiências de uma gente que caminha pelo revés da
história.
Assim, A parteira é o silêncio que se faz ouvir na voz de
uma gente onde um punhado de sal é a medicina, sem a charlatanice
pregada nas igrejas, sem a filantropia que gera lucros.
Ali, onde Madalena é a mãe do menino abstrato, cheio de ginga e
trato, é onde a realidade nos presenteia como ser existente, como ente
que se faz presente na orla do ontem, como papel timbrado no prefácio do
hoje do que um dia fomos, do que somos, do que ainda vamos descobrir
ser.
Em A parteira, a mulher abre a serra e se cobre de terra. Se
sente a síntese da vida. A parteira é Maria e ao mesmo tempo o enlevo
da existência na sua tênue andança. É a agrura de um povo na busca de um
arrebatamento: existir.
A obra é a primazia de um tempo, de um existir humano onde grito e
silêncio são sinônimos dentro de uma equação nunca exata. Pois existir
não é simplesmente ser pedra. Existir sugere a mutação do tempo. Sugere
ser a lâmina que decepa a própria vida e ao mesmo tempo a chama que
acena para o viver.
Nesta obra, o homem é assassino de si ao se permitir nascer. É
filosoficamente uma catarse sobre a tragédia humana de existir. Quem
constrói a realidade? O homem ou a própria realidade das coisas não
passa de lembranças de um ser que morre e que, no fim, não é nada?
Sentimos
o poeta nascendo pelos vales de sua própria palavra, gritando os
silêncios que nunca vem à tona, ou que estão sempre consigo amordaçados
pelas sandálias que o calçam da nossa triste calçada de sonhos.
Aqui, nesse cenário de orquestra, a vitrola era um vivo morto com os
versos dessa poesia retrato onde João naufragou sem sintomas, de apenas
desnutrição.
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