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Por quê a nudez incomoda?

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Abertura da novela "Brega & Chique" (1987). Foto: Divulgação
Nos últimos dias peladões estão aparecendo pelas ruas do Brasil, e na terra do carnaval com mulheres peladas, da novela que exibe as suas cenas calientes,a nudez ainda é um tabu, mas por quê? Lendo um artigo de um blog achei o que seria a resposta e compartilho aqui com vocês:

Quando eu era criança e gritava “Mãe, vou tomar banho”, minha irmã do meio, a Carlinha, saia correndo de onde quer que ela estivesse só para cantar: “Pelado, pelado. Nu com a mão no bolso.” – trecho da música “Pelado” do grande Ultraje a Rigor. Toda vez em que me lembro disso, rio sozinha e nós duas também rimos muito disso até hoje, porque, principalmente, toda a vez em que ela fazia isso, eu ficava muito irritada.
O que me incomodava na época, não era a nudez em si, mas a gozação – coisa de irmã pentelha, sabe? Na minha casa, nunca foi cultivado o habito de se andar “peladão” de um lado para o outro, mas a nudez também nunca foi vista ou tratada como algo pecaminoso.  Se alguém estivesse com pressa, nem perdia tempo fechando a janela do quarto para trocar de roupa.  Mas parece que ver alguém pelado, mesmo que essa pessoa não esteja fazendo sexo ou se insinuando sexualmente, constrange um número significativo de seres humanos.
Alunos da Ufam demonstram monotipia nus. Foto: Betilsa Rocha/Divulgação
Na última segunda-feira, dia 26/03, li no Yahoo a respeito de um grupo de jovens estudantes do curso de Licenciatura de Artes Plásticas da Universidade Federal do Amazonas que foram “repreendidos” pelos demais alunos da instituição por demonstrarem o princípio da monotipia usando como instrumentos os seus corpos despidos. O ato causou tanto estranhamento que virou notícia. Sobre a cena presenciada, o aluno do 4° período de Língua e Literatura Francesa Bruno Davila afirmou ao portal que “As pessoas não estão acostumadas com esse tipo de coisa. Apoio quase todas as manifestações de arte na Universidade, mas essa foi meio tensa.”. Em “resposta”, o idealizador da mostra, Fabiano Barros, disse que “Ninguém esperava um trabalho tão audacioso, porque 99% das pessoas têm medo ou repulsa ao nu, à beleza natural”.
Ao ler tais afirmações, perguntei para mim mesma: existe algo mais intrínseco ao ser humano do que a nudez? Quando nascemos, estamos nus. Quando queremos tirar a sujeira de nossos corpos, ficamos nus. Quando amamos, também ficamos nus (de corpo e de mente). E, quando morrermos, provavelmente, alguém irá nos despir para analisar a causa de nossa morte e outra pessoa irá nos despir novamente para nos lavar e depois nos vestir para que nossas famílias e amigos possam se despedir de nós.
Se a nudez é algo tão natural, por que ela choca/incomoda tanto? A nudez,  assim como as vestimentas, é uma  mera convenção cultural. Em outras palavras, um homem só se veste de uma determinada forma porque, no grupo ao qual ele pertence, combinou-se ou foi imposto que ele deveria usar aquelas roupas. Para entendermos melhor, podemos nos remeter ao que o pais da linguística moderna, Ferdinand de Saussure, afirmou com relação aos signos. Para o estudioso suíço, todo signo é composto por um significante (o som da palavra) e por um significado (o conceito atribuído por um determinado grupo de pessoas  àquela palavra), que, por sua vez, são unidos de maneira arbitrária. Isso significa que não existe uma razão lógica para que chamemos de livro um objeto que exerce a mesma função do que conhecemos como livro. Nós chamamos o livro de livro porque foi convencionando pela sociedade em que vivemos. Se vivêssemos nos Estados Unidos, por exemplo, chamaríamos livro de book.
Logo, em minha opinião, a nudez em si não constrange, o que faz dela algo constrangedor, e até assustador, são as convenções arcaicas que  impõem que as pessoas percebam e lidem com o nu de uma maneira negativa.
Figuren. Foto: Peter Van Stralen
Texto originalmente publicado no blog Aleatóriode Paula Vieira.

Autor: Paula Vieira é estudante de jornalismo na UFRGS e trabalha na produtora e distribuidora Zapata Filmes. Ela também possui o blog Aleatório, no qual escreve sobre diversos assuntos e acontecimentos culturais e políticos.

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