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A LENDA BRASILEIRA: 24 ANOS SEM CAZUZA

Há 24 anos, completados nesta segunda, 07 de julho, o Brasil perdia um de seus maiores compositores e poetas: Cazuza, que marcou a música e a cultura popular brasileiras. Com uma obra musical que vai do rock à bossa-nova, Cazuza é herdeiro da geração beat americana e do Tropicalismo brasileiro. Com irreverência e deboche, ele mexeu com cabeças e corpos nos anos 80, traficando palavras de ordem numa linguagem de amor e desordem. O legado de Cazuza, porém, não foi apenas musical. Ao morrer, ele deixou como herança para o Brasil, uma mulher, sua mãe, que deu continuidade à sua obra. Pouco depois da morte do filho, vítima da AIDS, Lucinha Araújo arregaçou as mangas e fundou a Sociedade Viva Cazuza, destinando os direitos autorais gerados pela obra do cantor a uma instituição dedicada a salvar vidas de crianças vítimas a AIDS. Mais que mãe, Lucinha Araújo sempre foi a melhor amiga de Cazuza, confidente e aliada, que o acompanhou de mãos dadas em todas as batalhas da vida, até o último suspiro. 
Guerreira por natureza, Lucinha confessa hoje que milênios podem passar, mas jamais passará a dor da perda do filho que ela considera a jóia mais preciosa que a vida lhe deu. 

Passados 24 anos da morte de Cazuza, a dor até hoje acompanha Lucinha dia e noite. Mas ela não se importa. Até gosta. “Porque a dor”, diz ela sem pieguice, “é uma maneira de ter o Cazuza sempre comigo”. 

A entrevista abaixo ao radialista Marco Lacerda, da Rádio Bandeirantes, franca, sem censura, repleta de revelações – é a homenagem de uma mãe que nunca se deixou vencer pela tragédia que levou seu filho deste mundo na plenitude da juventude e da criação. 

Marco Lacerda: Lucinha, em que altura da trajetória de Cazuza você descobriu que era mãe de um criador único na música brasileira? 

Lucinha Araújo: Demorou um pouco para a ficha cair. Eu sabia que ele era diferente. Sempre foi muito inteligente, mas não era bom aluno no colégio - muito rebelde. Nunca pensei que fosse um gênio, como hoje em dia reconheço que ele foi. 

Comecei a pensar nisso muito tempo depois, ele já era adulto. Quando criança, achava que era coisa minha, pretensão de mãe. 

Lacerda: Houve algum momento em que você se opôs à carreira dele como músico e cantor? 

Lucinha: Não, absolutamente, porque nossa família era diferenciada. Meu marido nunca trabalhou em outra coisa que não fosse música. Desde os 16 anos, sempre esteve em gravadora. Eu gravei dois discos, sempre cantei. 

Então foi a lei natural das coisas o Cazuza gostar de música. Ele viu nascer muita gente importante, de Elis Regina aos Novos Baianos, passando por Chico e Caetano. Para mim não foi surpresa, pelo contrário, adorei. A surpresa foi saber que ele era tão bom. 

Lacerda: Qual é, na sua opinião, a importância de Cazuza na música brasileira e como um artista que mexia com os costumes da sociedade? 

Lucinha: Antes de mais nada, além das belas canções que deixou, Cazuza foi um exemplo de coragem. Claro, ele vai marcar a música brasileira como Noel Rosa, que viveu 26 anos mas até hoje é falado. No entanto, a coragem foi o grande legado que deixou para o Brasil. 

Imagine uma pessoa no auge da beleza, do sucesso, da fama, vendendo discos, ganhando o dinheiro, se declarar soropositivo para que milhões de pessoas na mesma situação tenham o exemplo. Foi um ato de extrema coragem. 

Este ato me surpreendeu, não sabia o filho que tinha dentro de casa. Depois disso, acredito que o lugar dele vai ficar pra sempre, porque ele foi muito diferente, de vanguarda. Até hoje é de vanguarda. 

Tudo que ele falou aconteceu e até hoje o Brasil não tomou jeito (politicamente falando). Fora as canções de amor: Cazuza, como ninguém, cantou o amor de forma nua e crua. Sou suspeita, mas estou falando como fã, não como mãe. 

Lacerda: Você disse uma vez nunca superou a morte do seu filho e que podem se passar 150 anos que você nunca vai superar essa perda. Você pode falar um pouco sobre esse sentimento? 

Lucinha: Quem perdeu filho vai me entender: a gente não supera. Na verdade, não quero superar. Quero sentir esta dor enquanto for viva. 

Outro dia a Angélica esteve aqui gravando sobre o meu trabalho e fez esta mesma pergunta. A resposta foi a mesma: não superei e não quero superar. 

Agora, não sou uma pessoa para baixo. Sou sempre alto astral, como ele queria. Tenho sim os meus momentos de sofrimento, choro. Não devo nada a ninguém. 

Superar a dor da perda de filho é uma coisa antinatural: não vou superar nunca. O normal é o filho enterrar a mãe e não o contrário. Lembro-me que, no dia que vi meu filho morto, minha vontade foi de pegá-lo de volta e colocá-lo no meu útero novamente. 
Não vou superar, não quero superar e vou morrer chorando a morte dele. 
 RELEMBRE ABAIXO NO VÍDEO DA REDE GLOBO:


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2 Comments


De fato Cazuza deixou um vazio na musica brasileira e essa entrevista com sua mãe está muito comovente. Qual a mãe que supera a morte de um filho? Eu duvido! bjs e boa semana,


A morte nunca superamos, infelizmente é a única certeza da vida, certeza está triste.

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