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SERGIO BRITO: A MAGIA DA BATATA QUENTE, por Eduardo Cabus




Da autoria do ator, cantor, diretor teatral e empreendedor cultural EDUARDO CABUS, um dos textos mais bonitos e inspirados sobre Sergio Brito: 



SERGIO BRITO: A MAGIA DA BATATA QUENTE

Uma batata quente na boca
se transforma em uma voz única,
na mais identificavel do teatro brasileiro.
Será que é magia?
Não apenas é Sérgio Brito.
Como foi possível uma pessoa transformar uma voz que tinha tudo para não ser agradável,em uma voz com tanta riqueza de detalhes ao ponto de perder completamente a cadencia repetitiva das vozes "rouca",as quais se identificam pela sons monocórdicos? Será este um segredo guardado a sete chaves? Será a linha que diferencia a pessoa comum da pessoa especial ? ou é a pessoa que vive de forma intensa a paixão que nela existe, capaz de transformar os sons em cristais transparentes que refletem a personalidade de cada persona vivida no palco?
Sérgio Brito alimentou uma "magicapaixão" pelo palco, seu único e verdadeiro amor Um amor forte,dedicado, delicado ou mesmo violento Ele se desentendia com o teatro, brigava com ele e por ele mais dele não se afastava Um ator que dialogava com o teatro e dele era antagonista e protagonista da arte do diálogo Sabia exatamente como entrar e como sair de cena com perfeição Conhecia os efeitos de todas as áreas do palco e era o melhor no saber percorrer a "entrada cênica do rei" e não poderia ser diferente porque ele foi um rei nos palcos brasileiros.
Tinha o vigor destemido dos jovens atores,sem medo do ridículo, subia ao palco como se fosse a primeira vez e atuava como se fosse o último momento dele em cena , momento este ofertado ao público e compartilhado com todos colegas de cena em atitudes generosas
Viveu o presente com vistas para o futuro, reunindo um precioso acervo onde é possível conhecer as mais minuciosas técnicas de interpretações de todos os grandes atores e atrizes do mundo Este legado inestimável é também a melhor fatia do teatro brasileiro e como tal passa a ser obrigação do governo preserva-lo e se não o fizer o governo será o "vilão canastrão" da nossa memória cultural.
Simples ele sabia estar, com a mesma postura, em um botiquin de esquina como pisar nos mais felpudos tapetes vermelhos e é exatamente por isto que é fácil saber que ele não desejava homenagens nem antes nem depois de morto, mais exigia sempre o melhor para cena teatral brasileira, cena esta que ele representa um dos últimos guerreiros
Estranho quando alguém diz que a cultura brasileira perdeu um grande ator etc etc etc soa estranho porque a cena teatral brasileira, com a morte de Sérgio Brito, nada perdeu porque ele deixou viva uma memória cultural de referência inesgotável, uma fonte de conhecimentos materializado em um acervo de valor inestimável Ele supriu a sua própria presença a qual fica cravada em tudo que ele tocou para que todos possam toca-lo e dizer: Ele está vivo.

Com carinho
Eduardo Cabus



Retirado de Teatro Etc. e Tal

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